Nevão
Neva por Portugal inteiro! Neva em Lisboa!!
O Senhor Eusébio dirá, de sua justiça, que se trata de uma conspiração: "- O Estado encomendou a neve ao rrrussos para fomentar o consumismo...visto que 'tá frio, a gente tem necessidade de comprar aquecedores para se proteger..."
A porteira do Chagas diz que o nevão é uma estratégia de Bin Laden e seus sequazes para mandarem o povo para a rua e depois atacarem!
E o povo adere, o povo sai à rua, filma, tira fotografias, aglomera, vibra!
À porta dos cafés assiste-se à euforia do português paradigma, gritando de cerveja na mão: "- Há neve!"
O Tiago Bianchi avisa: "- É uma Graça!"
O Zé Maria Duque diz que é um milagre e canta o "What a Wonderful World".
Entretanto, na SIC, Santana Lopes fala dos seus tempos de criança, quando nevou pela última vez e os seus irmãos de partido o traíram, atirarando-lhe bolas de neve pelas costas. E afirma: "- Eu tenho um sonho...um sonho...o sonho de um dia ser um veado no meio das renas!"
A agitação social cresce, o camarada Jerónimo chama a atenção para a exploração dos trabalhadores, fingindo desconhecer o negócio sujo da encomenda da neve ao Estado Russo.
O poeta Alegre escreve e canta em jeito fadista: "- Neve!/ Onde está a neve?/ É tão branca a neve,/ Quem é que a tirou?"
O doutor Soares, sempre fresco, salta e barafusta, numa manifestação de jovialidade e irreverência! Ele fala de tudo, é ONU, é Iraque, é Sartre, é o Santo Padre João Paulo II, é o Líbano, a história de Israel, o massacre de Nanquim, a origem da Ordem do Templo, o ideal pedreiro-livre...Nada lhe escapa, à sua frente só fica o Senhor Eusébio, que relaciona ainda o nevão com a gripe das aves e o Crash de Wall Street de 1929.
Enquanto isso, Garcia Pereira queixa-se de que não há neve na sua rua, só na dos outros candidatos...as democracias, para além de caríssimas, são, de facto, muito imperfeitas. Mas como dizia Sir Winston, não se conhece ainda outra forma de conviver em política mais razoavelmente.
Lá a Norte, o Reitor da Casa São José anuncia: "- Vinde, trazei os vossos pais e procriai!"
A Sul, Alentejo e Algarve exultam de alegria, numa vibração só alcançada aquando do Euro 2004.
No dia a seguir há aulas, já não há neve, mas temos a consolação de ouvir o Senhor Eusébio dissertar sobre o tema, qual tese de doutoramento, clamando por justiça. Assegura: "- A crise é moral, há falta de ética, os princípios de Montesquieu não são respeitados e depois é o que se vê...o Estado de Direito não consegue contrariar isto!" E remata: "- O que era preciso era gente nova, capaz de pôr ordem nesta bandalheira!"
Ainda assim o povo está alegre porque neva, o povo é como a pobre ceifeira, "Canta.../ Julgando-se feliz talvez."
O Senhor Eusébio dirá, de sua justiça, que se trata de uma conspiração: "- O Estado encomendou a neve ao rrrussos para fomentar o consumismo...visto que 'tá frio, a gente tem necessidade de comprar aquecedores para se proteger..."
A porteira do Chagas diz que o nevão é uma estratégia de Bin Laden e seus sequazes para mandarem o povo para a rua e depois atacarem!
E o povo adere, o povo sai à rua, filma, tira fotografias, aglomera, vibra!
À porta dos cafés assiste-se à euforia do português paradigma, gritando de cerveja na mão: "- Há neve!"
O Tiago Bianchi avisa: "- É uma Graça!"
O Zé Maria Duque diz que é um milagre e canta o "What a Wonderful World".
Entretanto, na SIC, Santana Lopes fala dos seus tempos de criança, quando nevou pela última vez e os seus irmãos de partido o traíram, atirarando-lhe bolas de neve pelas costas. E afirma: "- Eu tenho um sonho...um sonho...o sonho de um dia ser um veado no meio das renas!"
A agitação social cresce, o camarada Jerónimo chama a atenção para a exploração dos trabalhadores, fingindo desconhecer o negócio sujo da encomenda da neve ao Estado Russo.
O poeta Alegre escreve e canta em jeito fadista: "- Neve!/ Onde está a neve?/ É tão branca a neve,/ Quem é que a tirou?"
O doutor Soares, sempre fresco, salta e barafusta, numa manifestação de jovialidade e irreverência! Ele fala de tudo, é ONU, é Iraque, é Sartre, é o Santo Padre João Paulo II, é o Líbano, a história de Israel, o massacre de Nanquim, a origem da Ordem do Templo, o ideal pedreiro-livre...Nada lhe escapa, à sua frente só fica o Senhor Eusébio, que relaciona ainda o nevão com a gripe das aves e o Crash de Wall Street de 1929.
Enquanto isso, Garcia Pereira queixa-se de que não há neve na sua rua, só na dos outros candidatos...as democracias, para além de caríssimas, são, de facto, muito imperfeitas. Mas como dizia Sir Winston, não se conhece ainda outra forma de conviver em política mais razoavelmente.
Lá a Norte, o Reitor da Casa São José anuncia: "- Vinde, trazei os vossos pais e procriai!"
A Sul, Alentejo e Algarve exultam de alegria, numa vibração só alcançada aquando do Euro 2004.
No dia a seguir há aulas, já não há neve, mas temos a consolação de ouvir o Senhor Eusébio dissertar sobre o tema, qual tese de doutoramento, clamando por justiça. Assegura: "- A crise é moral, há falta de ética, os princípios de Montesquieu não são respeitados e depois é o que se vê...o Estado de Direito não consegue contrariar isto!" E remata: "- O que era preciso era gente nova, capaz de pôr ordem nesta bandalheira!"
Ainda assim o povo está alegre porque neva, o povo é como a pobre ceifeira, "Canta.../ Julgando-se feliz talvez."